arranhadas as portas dos armários
fechadas, agora sem percepção
sem espaço pra mais nada
de você as roupas não cabem
também não cabem as tralhas
entulhos que você deixou espalhados
pelo chão ruínas
se empilhando em cinzas
não nos cinzeiros, mas em mim
no cálcio da pele, no meu encalço,
num tormento, tropeço
nos pedaços deixados na casa, brinquedos
que você não quer mais brincar
comigo, no chão, na cama, na cozinha
só o cheiro do gás
vaza sobre a comida
sobre mim, você
acha intragável
ainda que -
de você restam
só as migalhas sem trilha
então eu me debato
em círculos eu bato nas quinas
da vida eu bato nas arestas
da frase não dita, deixada
na noite, em sussurro, consente
não cala, não mente
apenas lamenta, no dia seguinte
quando a casa é feita de paredes sem portas
e uma janela sem grade pra se dizer presa
- não! terrivelmente aberta
ao pulo convida
aos amigos, que não passam da sala
uma vez que
era uma vez a bagunça
atrás das portas dos armários
todos os casos
destroços
fechados